Sobretaxa dos EUA sobre aço brasileiro ameaça economia, empregos e valor do real

Imagem – Crédito: Terra

Redação Interior Notícia

Nacional – A taxa extra de 25% que os Estados Unidos imporão sobre a importação de aço brasileiro está prestes a impactar a siderurgia nacional. Essa pressão levará as siderúrgicas a buscar novos mercados para o excedente, com o risco de reduzir a produção e cortar empregos. A economia brasileira, por sua vez, pode sofrer com a diminuição da circulação de dólares, resultando em uma possível desvalorização do real em relação ao dólar.

“Qualquer aço que entrar nos Estados Unidos terá uma tarifa de 25%”. Essa promessa foi feita no domingo (9) pelo presidente americano Donald Trump, enquanto conversava com jornalistas a bordo de um voo para Nova Orleans, onde iria assistir ao Super Bowl.

Os EUA são os principais importadores do aço brasileiro, tendo o Brasil como o segundo maior fornecedor do produto em 2024, atrás apenas do Canadá. No ano passado, as siderúrgicas brasileiras exportaram 4 milhões de toneladas de aço para os Estados Unidos, totalizando US$ 3 bilhões.

Com a imposição da sobretaxa, as siderúrgicas brasileiras enfrentarão o desafio de realocar esse volume para outros mercados. “A realocação desse volume é um desafio enorme”, afirma Jorge Ferreira dos Santos Filho, professor de Finanças e Governança Corporativa da ESPM. “Uma alternativa seria aumentar as exportações para a China, além de considerar países da União Europeia e do Mundo Árabe, que aumentaram sua demanda nos últimos anos.”

O governo precisará realizar esforços diplomáticos e comerciais para expandir as vendas nos mercados tradicionais e encontrar novos destinos. Segundo Santos Filho, o mercado interno dificilmente conseguirá absorver esse aço, a menos que políticas públicas incentivem a indústria, projetos de infraestrutura e a construção civil. Setores como o automobilístico também poderiam absorver parte da produção, mas dependeriam de incentivos governamentais.

“O mercado interno de aço está desaquecido”, confirma o economista Rafael Passos. “Será difícil absorver essa demanda, já que os EUA representam 48% das exportações brasileiras do produto”, diz Passos, analista da consultoria Ajax Capital.

Se o Brasil não conseguir vender esse aço para outros países, o real pode se desvalorizar em relação ao dólar. “Uma queda nas exportações resultará em uma diminuição significativa da entrada de dólares no Brasil, o que pode desvalorizar o real em relação ao dólar”, alerta o professor da ESPM.

No pior cenário, a produção nacional pode cair, levando a cortes de empregos nas siderúrgicas. “Pode ser que a produção nacional reduza, e pode até ocorrer demissões”, diz Passos. Santos Filho concorda, afirmando que a redução na produção de aço, o desligamento de fornos e a demissão de trabalhadores são riscos iminentes, como ocorreu durante o primeiro mandato de Trump, quando ele também elevou as taxas sobre o aço.

As empresas que operam no Brasil serão as mais afetadas. “Usiminas, CSN e outras siderúrgicas com atuação mais local terão impacto negativo em volume produzido e preço”, explica Passos.

Poucas empresas brasileiras se beneficiarão da taxação. “Siderúrgicas que atuam nos EUA, com fábricas lá, como a Gerdau, se beneficiarão da sobretaxa”, comenta Passos. “A Gerdau possui fábricas nos EUA, conseguindo atender à demanda local. Cerca de 40% da geração de caixa da empresa vem dos EUA. A Gerdau conseguirá aproveitar sua capilaridade geográfica.”

Empresas de outros setores também sentirão os efeitos da taxação. “A sobretaxa provavelmente terá impactos além da siderurgia, afetando fornecedores de matérias-primas, transportadores e indústrias dependentes do aço”, explica o professor. “Isso impactará os resultados financeiros das empresas, resultando na redução de postos de trabalho.”

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